domingo, 26 de setembro de 2004

Fonte Mouro

Li há uns tempos e já nem sei onde que Beja, ao contrário de outras terras do sul, não tem a sua história de mouras encantadas. Pois tem-na, e bem bonita

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Ao contrário do que aconteceria uns séculos mais tarde, aquando da abjecta história da Inquisição, depois da conquista de Beja ainda por cá ficaram bastantes sarracenos que, continuando com as suas crenças religiosas, viviam em paz com os novos senhores da região.

Ora a menos de uma légua para norte da cidade, no local onde é agora Fonte Mouro, habitava um mouro bastante rico, pai de uma belíssima moça por quem um jovem cavaleiro cristão se tomou de amores. Também ela não ficou indiferente à figura do jovem; e começaram a encontrar-se pela calada da noite nos jardins do palacete árabe, por entre palmeiras e serenos lagos.

Mas o astuto árabe, desconfiado da súbita felicidade da filha, pôs-se a espiá-la e descobriu dos seus amores. Não querendo que uma devota de Alá se unisse a um cristão proibiu-a de se encontrar com o namorado. Valeu aos amantes uma velha ama que criara a moça e que conseguiu combinar a fuga. Numa noite de lua cheia, o cavaleiro arrumou a sua montada ao muro do palacete e assobiou o sinal combinando, pouco tardando para que a jovem pulasse para o lado de fora.

Já ambos no cavalo se preparavam para partir quando do escuro surge o vulto do árabe que, erguendo os braços ao céu, invocou o nome de Alá e rezou o velho encantamento de muito poucos conhecido.

Conta-se que do céu desceu um raio que transformou o jovem ousado em fonte, enquanto a bela árabe se transformava em cobra.

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Passaram nove séculos. Ninguém mais soube do velho árabe e o palacete desfez-se, comido pelo pó dos tempos. Mas ainda hoje se pode ver, nas cálidas noites de lua cheia, uma enorme cobra com um belíssimo rosto de mulher ir beijar a água da fonte ...

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