domingo, 10 de setembro de 2006

Não me empurrem, por favor !!!

Ninguém gosta de esperar. Muito menos quando essa espera está relacionada com uma obrigação, ou com algo a que não se pode furtar: pagar impostos na repartição de finanças, fazer um depósito no banco, renovar o B.I. na conservatória. É claro que até já há maneiras de se fugir (mais ou menos impunemente) à espera. Cá por mim, quando não posso fugir levo o jornal ou um livrinho e até sou capaz de dar a vez a uma velhinha que tem "o marido à espera pra almoçar", mesmo que veja pelo piscar de olho do funcionário que a velhota é viúva há mais anos do que eu tenho barba. E as instituições até vão arranjando maneiras de não ter ali a malta a "azucrinar" a cabeça dos que estão trabalhando, até porque estar a trabalhar sob a algazarra que se ouve em determinados locais "é obra" e leva a que tenha que se abrandar o que já por si mesmo é demorado; ou então surge o erro, que leva ainda mais tempo a remediar. E surgem as senhas, que até dão prá malta ver mais ou menos quantos estão à frente, ir beber uma bejeca pra refrescar e voltar mais perto da hora provável de atendimento. Até aqui, tudo bem, e só não gosta do esquema das senhas quem preferia ver ali o pessoal à espera em "filinha de pirilau", tudo de pé a sofrer da hérnia discal, à espera duma oportunidade para "pois quando você aqui chegou não reparou que eu já cá estava? É que tive de ir ali fora ligar o telemóvel e quando voltei já você aqui estava...". É claro que sempre há alminhas tão angélicas que continuam a cair em esquemas destes.
Mas com o que não posso mesmo é com a "coisificação" do ser humano, o "encaixar" a toda a força o indivíduo, levá-lo ao extremo de não poder tampouco fugir não às obrigações mas ao legítimo direito de ser uma pessoa e não ter de andar a correr atrás dos ponteiros como se fosse uma pedra dum jogo. É o caso das SMS a avisar que está na nossa vez . Que alguém se sirva disso para ir tratar de outros assuntos, nada de mal advém daí para o mundo; se a ideia é tornar a espera menos dolorosa, muito bem. Mas a intenção será essa? Desculpem se acho isso uma "sacanice" tremenda que apenas serve para nos remeter ao lugar de "cumpridor", de "encaixado". Recuso-me a ser apenas uma peça da engrenagem que tem de correr com o papelinho na mão porque o telemóvel me avisou.
Quem quiser que engula o anzol; também podem levar a amostra e a cana. Não me venham é pra cá depois com poemazinhos lamechas e fotografias pindéricas do pôr-do-sol em tons encarnados, dizendo que ninguém os avisou (como se isso ainda fosse necessário).

1 comentário:

Anónimo disse...

Nesses casos há duas situações que não desculpo de maneira nenhuma.

1º Fila enorme, mas cada um com a sua senha. Chega um chico esperto (ou chica esperta, como foi o caso) a dizer: "Desculpe, só uma pergunta. E claro, essa pergunta leva o seu tempo e com isso tudo ela foi atendida....

2º Fila enorme (loja TMN) Já estou à espera há 20 min. Está quase na minha vez, de repente, um cliente que já estava a ser atendido quando cheguei (!) tem a atenção de todas as quatro funcionárias por largos minutos. "É assim, é assado, pois é, eu também....."