domingo, 17 de outubro de 2004

Defender a tradição implica defender a estupidez?

Uma das frases por que me defino a mim próprio é "detesto talibans e racistas, nazis e praxistas". Assim mesmo, curto e grosso. No entanto, quase que diariamente nesta época do ano, sou confrontado com a visão da última daquelas quatro odiendas classes de gente que, se bem encarada no fundo dos olhos e indagada apenas "Porquê?" limita-se a responder duma forma vazia, tão vazia de argumentação como vazia de imaginação é a sua forma de actuar nas primeiras semanas de aulas do ensino superior.

A coberto da defesa da tradição, o praxista permite-se atacar moralmente o caloiro (na pessoa deste e dos seus familiares) que, por não passar de um "bicho" (nas palavras do "doutor") foi levado pela estupidez a escolher aquela escola. Por sinal a mesma escola que o energúmeno escolheu; pura coincidência, pois claro...

Defendendo-se com a "integração" do caloiro, permite-se o "lente" armar-se em sargento de infantaria. Exemplo: "Mas estão gozando comingo?! Vá lá!! Quero ouvir isso bem alto!!". Ou seja, uma reles imitação de um sargento de infantaria; por motivos óbvios sabe-se que o "escolante em vias de doutoramento" nunca viu nem verá um quartel...



Quanto ao iniciante, vindo de lá de trás do cu de judas, não conhecendo ninguém, anseia por afiliação, quer ver-se integrado em algo o mais rapidamente possível e sujeita-se a tudo e mais alguma coisa. Permite tudo, reconhece suma autoridade a um semelhante, apenas pelo facto de este ter chegado dois ou três anos antes. Apenas não permite que o pai, lá na terra, lhe diga pacientemente para não bater com a porta quando chegar da farra às quatro da manhã, porque aí o caloiro não vai tolerar o "abuso de autoridade".

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Frequentei, e espero voltar a frequentar, o ensino superior. Nada tenho contra a capa e a batina, deveriam ser preservadas a todo o custo, tal como a tradição, mas aceito que me digam que aqui é que me engano redondamente: para indivíduos que quase só vestem a farda de estudante para humilhar um colega recém-chegado, se se acabar com a praxe a tradição fica reduzida a vesti-la só em dias de bebedeira.

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Apenas mais uma bolota (e alguém me corrija se estou errado): nos bons pares de anos que tem o ensino superior em Beja e que tem havido o degradante espectáculo das praxes, não me parece que Câmara/Governo Civil/Polícia (porque não?)/Conselhos Directivos das escolas alguma vez se tenham juntado à volta duma mesa para debater o assunto. Será coisa de menos-valia ou alguém anda mesmo assobiando pró ar?



2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Celtiberix, esta são, infelizmente mais umas das caraxcterísticas que definem a nossa República das Bananas!Palavras para quê?

Anónimo disse...

Também não acho piada nenhuma às praxes académicas. Tanto mais que se formos a olhar bem para os alunos que as organizam vemos que, na maior parte dos casos, são aqueles que têm piores notas, que passam a vida de bar em bar e a pensar no proximo concerto da tuna. Estudar é que não é com eles. Mas, também não me parece que as autoridades referidas neste texto devam actuar perante tal situação, a não ser os conselhos directivos das universidades. Penso que a alteração deste tipo de actos deve partir dos proprios alunos, das associações de estudantes e comunidade académica.