domingo, 4 de setembro de 2005

Vilar de Papalvos

Vi há pouco na televisão a notícia do fecho do congresso de Vilar de Perdizes. Pouco acesso tenho ao que por lá se passa, a não ser a (des)informação que me querem fazer chegar a casa. E fica-me sempre aquela impressão de que quando um esperto encontra um medroso, há dinheiro que passa dum lado para o outro; e nunca é para o lado do medroso.
Desta vez, apareceu para ali um padre exorcista a debater não sei se com um psicólogo, psiquiatra, mero curioso, ou concorrente; que isto de tirar espíritos é pior que a telecom versus vodafone, passando pela optimus e outros que tais: "Até ao mês de Dezembro pode tirar espíritos a 1 cêntimo por exorcismo, sem carregamentos obrigatórios". É claro que aparece logo outro "Marque já vinte e dois vinte e três vinte e quatro vinte cinco do seu telélé e escolha com as teclas o 'screen' do seu agrado: 1- para S. Judas Tadeu, 2- para S. Cipriano, 3 - para a Santa da Ladeira... ou asterisco cardinal asterisco para a Maia do Tarot".
E é este o país que temos (país ou anedota, já nem sei), que nos vão vendendo ano a ano, mês a mês, dia a dia, sem quase nos darmos conta.
Mas como ía dizendo: o padre exorcista debatendo com um "civil", a plateia a ver e a bater palmas, consoante "votava" no padre ou no outro. Não deu para ver a quem aplaudiam mais, nem deu para ver mais que um minuto, mas deu para perceber que também já ali está instituido o "televisionismo" porco, bácoro, infame, que nos têm obrigado a engolir de há uns anos a esta parte. Já repararam de certeza nos programas-para-donas-de-casa (a falta de respeito para as ditas não é minha, é de quem faz esses programas) que qualquer canal passa pela manhã até à hora de almoço, e onde leva dois ou três humoristas (às vezes menos), mais dois ou três larilas (às vezes mais), e a maia que trata as constelações por tu: antes de a assistência começar a bater palmas reparem bem que há sempre um tipo a bater palmas à desgarrada, com toda a força; já repararam? Sendo assim, sabem perfeitamente ao que me refiro: não interessa o que se transmite, nem interessa que se debata, o que importa é que cá pra fora (pra dentro da nossa casa) passe a imagem de que aquilo é sério (ou A sério), que quem está a ver lá não foi "comprado", que toma partido por si próprio.
Porra, desviei-me do que queria e agora já é hora de ir xonar. Prometo que amanhã volto aqui pra continuar com esta história dos espíritos (ai que meeeeeeedo!).

2 comentários:

Anónimo disse...

porreiro o texto. aguardo o resto :)

Anónimo disse...

Bom,continuas a ser o mestre do edital, crú, real, factual, não-banal (pôrra, chega de tanto "al"), delicioso e cómico-corrosivo. Por estes motivos sempre gostei do que escreves. Vilar de perdizes, pois... Há mais coisas no céu e na terra do que possas imaginar (shakespeare em forma livre). Tenho vontade de dizer que o povo talvez não seja assim tão néscio. Há mesmo formas de energia subtis que escapam ao nosso sistema cognitivo grosseiro, versão base. Com uns extras (meditando, etc.) começa a ver-se um pouco mais. Em relação ao carregue numa tecla e lá vai um santo, a tua sorte é que me estou a converter ao Budismo Tibetano (falo muito a sério) senão como Abade tinha de te dar com um pôrro na cachêra. Boa! amigo Toi, no teu melhor como sempre e para nossa sorte. Teu amigo C.V..