segunda-feira, 13 de novembro de 2006

"Dessa água não beberei !!!" ... e morreu desidratado

Passei agora mesmo ali pelo meu amigo nikonman que, pelo menos pelo que lhe conheço de há muitos anos, não podia deixar passar em claro o que está acontecer na cidade de Beja (e não só), onde o comércio anda pelas ruas da amargura. Com uma elegância e clareza enormes "limita-se" a colocar três fotos referentes ao mesmo assunto num "post" que mexeu comigo e com muito mais gente.
Claro que a situação para que alerta, mesmo não tendo eu qualquer pataca directamente envolvida no assunto, também não me agrada mas pergunto-me se as causas apontadas por muita gente serão as mesmas que grande parte dessa gente (comerciantes incluidos) aponta para o problema que já parece uma bola de neve. E como não tenho os profundos conhecimentos de micro/macro/merdo/economia de muita gente que conheço, passo a referir o assunto, limitando-me a apontar casos reais de conversas com alguns amigos meus.
Acto I - O Senhor é o meu pastor, nada me faltará (Salmos, 23)
Aqui há uns anos, estava para abrir o primeiro hipermercado da nossa terra quando tive este diálogo com o detentor de um supermercado cá do burgo.
- ... mas tu tás maluco? Não vês que as pessoas nos conhecem e acreditam em nós e sabem o que é qualidade? Esses gajos vêm para cá mas abrem falência. Dou-lhes seis meses e fecham a porta! Não te esqueças que eles não vendem fiado e a nossa gente sabe quem a trata bem!
(devo referir que, embora as palavras não fossem textualmente estas, as expressões "nos conhecem" e "nossa gente" são bem reais e foram utilizadas no sentido indicado).
Por acaso já encontrei este meu amigo (amigo, sim senhor, que nestas coisas de amizades não sou nenhum cretino) por mais de uma vez com o carrinho do modelo cheiiiiiiiinho de garrafinhas de água de 33 centilitros da mesma marca que vende no seu estabelecimento. Uma vez que não patrocina eventos desportivos, culturais ou de outra natureza, deve ter a canalização rota e é pra tomar banho; só pode ser.
Acto II - Cesse tudo o que a Musa antiga canta / Que outro valor mais alto se alevanta (Os Lusíadas, I, 3)
Um outro amigo, comerciante de longa data e bem implantado no ramo, jurava-me a pés juntos que nunca trespassaria o negócio. Estava ali porque gostava e, ao contrário de muitos dos seus colegas, a coisa ía de vento em popa. Essa mania de vender ou alugar a "tabanca" a "esses gajos dos bancos ou seja lá a quem fôr" não era para ele; muito menos aos chineses porque:
- É como te digo, esses chinocas sabem lá vender. Eu não ponho lá as patas nem que me paguem.
Pois quanto às patas, não as pôs lá. Mas pagaram-lhe e suspeito que bem: a sua "tabanca", como lhe chamava, é agora uma das "lojas de chineses" que abriram em estabelecimentos que faziam parte da história cá da Pax, e cujo dono era "um patriota" que, mais do que o lucro e segundo as suas próprias palavras, o que queria era " o desenvolvimento da terra".
Acto III - Oh, teimoso e voluntário exílio do peito amantíssimo. (...) Alcançara a vitória sobre si próprio. Amava o Grande Irmão. ("1984" , George Orwell)
Mas quem é o cretino que hoje em dia não tem computador? Nem mesmo o meu amigo Tadeu Aldegundes (nome fictício, mas a personagem é verídica) que acusa os chineses de venderem barato porque trabalham com mão de obra mal paga, sem Previdência ou qualquer tipo de assistência social. Também ele se recusa a comprar nem que seja uma caixa de parafusos aos chinocas, porque não está para pactuar com "cenas antissociais" (expressão sua). Além disso adquiriu ao preço da uva mijona um computador "artilhadíssimo" (expressão também sua) com duas "drives" de DVD, uma de CD, "webcam", microfone e colunas, placa de TV, etc e tal que até fiquei azul quando vi. Só que fica pior que uma barata de cada vez que lhe digo: - Abre a porra do computador e vê lá se não tem uma etiquetazinha "made in Taiwan".

3 comentários:

Anónimo disse...

Que belo post.
De extrema lucidez.

Anónimo disse...

@--->mad
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Então e que tal vai a nova actividade? Boa sorte.

Anónimo disse...

São os tempos modernos! Já o meu pai dizia: Nunca digas nunca! Só se pode aplicar numa frase: Nunca se sabe o dia de amanhã....